sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Pimenta no ** dos outros é refresco

Haverá coisa mais detestável que vermos a nossa vida e opções julgadas por terceiros? 
Como encarar um funcionário público (com um emprego seguro e bem pago) que nos diz lá do alto do seu pedestal que aos 23 anos ainda é cedo para começar a vida, que há tempo para a realização pessoal e financeira e, como tal, a oportunidade de passar a ser explorada a recibos verdes por uma entidade pública e ganhar menos de metade do que qualquer técnico superior é uma oportunidade a não perder. Afinal, segundo a mesma pessoa, pode ser que daqui a 5 ou 6 anos abra concurso e eu já esteja dentro do sistema. 
A sério? A crise justifica mesmo este consentimento incondicional? Perdermos qualquer ambição e levarmos as mãos ao céu porque esta é a última gota de água no deserto? Perdermos toda a confiança que tenhamos em nós próprios e nas nossas capacidades quando vemos que aos olhos dos outros elas valem tão pouco?

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A devoradora de séries

Nestes 7 meses de desemprego tenho buscado desenfreadamente coisas para manter-me ocupada. Além da pós-graduação, as lides da casa, a praia, as explicações que por enquanto estou a dar e as leituras, ainda sobra tempo. 
Por isso, gostando de séries como gosto, dediquei-me a ver algumas que já tinham acabado ou que estão em pausa: 
Sete palmos de terra

Breaking bad

Mad men

A grande questão que se põe agora: qual a próxima? Orange is a new black? Revenge? O mentalista?

Paradoxo: é necessário dinheiro para conseguir emprego

Embora possa parecer contraditório, uma pessoa que se encontre desempregada precisa de gastar algum dinheiro para deixar de o ser. Ora vejamos, há uns tempos atrás abriu um concurso por estes lados que requeria um atestado médico a confirmar a robustez física dos candidatos. Como o concurso estaria aberto muitos poucos dias, não consegui marcar consulta no Centro de Saúde (que surpresa...!), pelo que nada me restou senão ir ao privado e despedir-me de 55€. Pensei que a oportunidade justificaria o dinheiro gasto, mas nem sequer fui chamada a uma entrevista.
Abriu novamente um concurso na minha área (uau!), mas, surpresa das surpresas, solicita que, além da licenciatura pretendida, os candidatos tenham um curso específico que é coisa para custar à volta de 2400€. 
Para além destas coisas, há sempre as deslocações para entregar currículos ou para ir às entrevistas, a tinta para imprimir o currículo ou até as despesas com o correio quando é impossível entregar em mão.
Não me arrependo do que tenho feito nestes últimos 7 meses para conseguir trabalho, mas se contabilizasse o dinheiro que gastei até agora nesta tarefa herculeana, de certeza ficaria de rastos e sem vontade de continuar. 

sábado, 2 de agosto de 2014

Que mais acrescentar?

"- Pois é, a maior parte dos desempregados são jovens...
- É estranho, não é?, disse o seu interlocutor. Vendo bem, nós, os jovens, temos muito mais sangue na guelra e em geral até somos menos exigentes quanto aos salários. Seria normal que os empresários nos preferissem, não acha?
O historiador abanou a cabeça.
- Tudo isso é verdade, admitiu. Mas o problema, e sobretudo o vosso problema, é que a lei protege quem tem trabalho. É dificílimo um empresário despedir um funcionário dos quadros, de maneira que ninguém quer criar mais empregos. Para quê? Para depois não conseguir reduzir o número de funcionários se o negócio correr mal? Isso criou um desequilíbrio no mercado de emprego, é evidente. Vocês, os jovens, é que pagam a factura. Quem tem emprego, isto é, os mais velhos, só o perde se a empresa for à falência. Quem tem trabalho precário ou não tem emprego, ou seja, os mais novos, não consegue ser contratado porque os empresários têm medo de, se as coisas correrem mal, nunca mais os conseguirem despedir. Conclusão? Os jovens é que se tramam".

(José Rodrigues dos Santos in A mão do diabo)